CINQUENTENÁRIO DE MIGUEL ROVISCO (1959-1987)
Beijo tua carranca e tuas mãos, ó Nuno,
porque toda memória é um poema de amor
e esse teu eu regulo
na eternidade do teu relógio de Cobardias
na tua grandeza lusitana
e nas tuas nervuras de Priapo
As tramas da tua corda vou distorcendo
no meu entendimento tropical em sisal atlântico
e procuro a ver se encontro
o gajo que herdou teu violino
sob a tua lua de Brahms
Eu suponho que já conhecias teu heroísmo
desde a infância com que escarnecias o querer ser Deus
e como Ele
vencer o insosso da lamúria modorrenta
A saudade é podólatra
por isso anda e caminha sem fim
a sua linda vaidade de pegadas
como a própria e tanta andança tua, Nuno,
tu que és onomatopeia entre os dentes do Divino
tu que és trilho e mito
Ivan Fornerón
Do livro O Eu-Cão Que Aprumo; 2009