Você sempre quis ter uma dentadura de cão
e mesmo babava
a uma simples lambida
num osso de bicho morto qualquer
Você sempre quis ter um gosto
na divisão silábica
de cada palavra
que o rabo de vento do último vagão do metrô
arrasta
Você quase sempre
esteve presente
entre a mordida dos lábios
e o uivo-fricção dos trilhos
É tanta a ingenuidade da armadilha
que é com riso que você pisa
o descaramento
do que antes foi amada reticência
e que agora brota sob os pés
como encardidas e repetidas listras
de escada-rolante